A estudante A., 17, tem dificuldades para falar, caminhar e se
levantar. Para ir até a porta de casa- uma distância de aproximadamente
cinco metros- ela precisa da ajuda da mãe. Ela sofre de obesidade
mórbida e hoje pesa 190 quilos, mas já chegou aos 205 kg. Por causa do
excesso de peso, A. abandonou a escola há três anos e não consegue fazer
exercícios físicos (os nomes nesta reportagem são descritos somente com
iniciais para preservar a identidade da adolescente).
Aos 15 anos, A. começou o 1° ano do Ensino Médio em uma escola estadual
de Uberlândia, 536 quilômetros de Belo Horizonte, mas não passou do
primeiro mês. “As pessoas sempre falavam de mim, quando eu chegava
perto, todos se afastavam. Não quis ir mais à aula. Era difícil para
mim”, disse.
A mãe dela, E.M.S, 55, conta que a filha precisava ir com a mesma roupa
todos os dias porque não havia tamanho especial para o uniforme. “Tudo
dela eu preciso mandar fazer, até a roupa íntima. Os colegas diziam que a
roupa sairia andando sozinha e que ela estava ‘fedendo’. Foi muito
dolorido para mim e também não aceitei (ela) não ir mais a escola.
Cheguei a forçar, mas acabei respeitando a vontade dela”, disse.
A., segundo a mãe, começou a engordar acima do normal quando tinha nove
meses de idade. “Cada mês ela subia muito de peso. Nós a levamos em
todos os médicos públicos da cidade, mas sempre tivemos dificuldades
financeiras e ela acabava abandonando o tratamento”, contou. “Ela só
conseguiu equilibrar o peso quando tinha 6 anos”, concluiu.
A mãe é catadora de produtos recicláveis e diz receber menos de um
salário mínimo por mês e viver de doações. Segundo ela, a última médica
endocrinologista passou uma dieta com produtos naturais e integrais, mas
por ter pouco recurso, não teve condições de comprar tudo. “O pouco que
ganho é para pagar as contas de água, luz e comprar comida”, disse.
A assistente social Cláudia Lima de Oliveira tem acompanhado o caso da
família e disse que buscou ajuda médica para que ela faça a cirurgia
bariátrica, mas como ela é menor de idade não foi possível. “Os médicos
disseram que tem que ter no mínimo 18 anos. Agora a nossa preocupação é
com a reeducação alimentar e a preparação psicológica. Estamos buscando
apoio junto aos médicos para que eles possam vir até a casa dela, porque
é difícil para ela se locomover”, informou.
Médico diz que obesidade de adolescente é severa
O médico especialista em cirurgia bariátrica Luiz Augusto Mattar,
explica que a paciente apresenta um índice de massa corpóreo IMC
altíssimo de 65kg/m2 o que caracteriza obesidade severa. Segundo ele, o
caso dela deve ser investigado por um endocrinologista para identificar
se não há doença glandular ou genética que leve ao excesso de peso.
“Caso ela não apresente qualquer dessas doenças, seria imprescindível
iniciar com acompanhamento multiprofissional, endócrino, psicóloga,
nutricionista, educador físico, associado ao balão intra-gástrico para
que ela perdesse pelo menos 20% de seu peso. Assim que ela perdesse esse
peso, estivesse preparada e ela em conjunto com a família concordassem
com a cirurgia bariátrica, essa poderia ser realizada”, disse.
Hospital público não recebeu pedido de cirurgia
O Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia informou
que a garota era monitorada por médicos do Hospital desde 2003, quando
ainda era atendida por pediatras. Em 2011, ela foi encaminhada para uma
endocrinologista e não mais retornou à unidade hospitalar. O HC/UFU
também informou que não houve solicitação de cirurgia bariátrica para a
paciente.
A mãe de A. disse que a filha tem dificuldades de caminhar e muitas
vezes não consegue ir ao médico. "Ela quis desistir. Já tentei levá-la
de volta, mas ela tem muita dificuldade", disse.