A obesidade, doença que já atinge quase metade da população brasileira,
segundo o Ministério da Saúde, tem diversas causas, e a cada vez mais
complicada relação entre a fome verdadeira e a simples vontade de comer é
um desses fatores.
Isso porque hoje, devido à crescente incidência de males como
ansiedade, estresse e depressão, muitos estão descontando todas as
frustrações e problemas diários na comida e, consequentemente, ingerindo
uma quantidade de alimentos bem maior do que organismo precisa para
viver.
Segundo a nutricionista Priscila Rosa, da Equilibrium Consultoria, isso
acontece porque o desequilíbrio emocional pode gerar uma queda no nível
de serotonina no organismo. Esse neurotransmissor, responsável pela
sensação de bem-estar, é produzido pelo corpo quando açúcares são
ingeridos.
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Uma vida regrada ajuda a identificar com mais clareza os sinais do corpo quando se está com fome
Nestes casos, a pessoa come simplesmente para tentar preencher o vazio
emocional e se sentir melhor. “O indivíduo busca no alimento,
principalmente os gordurosos, como fast foods, chocolates, sorvetes e
doces, a sensação de bem-estar que está faltando”, explica a
nutricionista Jocelem Salgado. E as mulheres saem em desvantagem neste
quesito.
Já a fome verdadeira é bem diferente e resulta da necessidade
fisiológica do organismo de obter nutrientes. “Quando a nossa taxa de
açúcar no sangue fica baixa, no período entre as refeições, o cérebro
entende que o combustível para manutenção das funções vitais está
acabando e então envia sinais ao corpo. É quando sentimos o estômago
‘reclamando’”, diz Rosa.
E ela tem “sintomas” físicos bem definidos. “Sentimos o estômago
roncar, e se não nos alimentarmos logo, pode ocorrer cefaleia, aquela
dor de cabeça que só vai passar depois que for feita a refeição”,
continua a nutricionista.
Alimento e afeto
Do ponto de vista psicológico, a ligação entre emoções e comida começa
quando ainda se é bebê, muito antes de qualquer desequilíbrio químico no
organismo. “A relação afetiva com o alimento começa já no nascimento,
quando precisamos mamar para sobreviver física e emocionalmente”, conta a
psicóloga Sandra Hamzeh.
O ato de mamar passa, então, a ser associado pelo bebê à sensação de
afeto e proteção. “Levamos essa condição e conceitos formados desde
então para nossa vida adulta, quando ‘confundimos’ e ‘camuflamos’ nossas
necessidades por meio do alimento”, continua ela.
Além dessa ligação, há também as lembranças que alguns alimentos
despertam. Pode ser aquele bolinho de chuva da infância ou o peru de
todos os Natais, quando os avós ainda estavam vivos. “É quando sentimos
vontade de determinado prato por nos lembrarmos de alguma pessoa ou
situação que nosso cérebro registrou como sendo um momento importante ou
prazeroso”, diz Rosa.
Estímulos externos também podem despertar a vontade de comer, sem
necessariamente que estejamos com fome. É o caso daquele cheiro de
comida caseira no corredor do prédio ou da pizza quentinha do delivery
ao lado de casa. “Quando o odor de alguma preparação vem pelo ar,
podemos sentir vontade de comer aquele alimento”, diz Rosa.
Culpa
A vontade de comer que ultrapassa o limite aceitável e leva à obesidade
é uma armadilha da qual é difícil sair. Ela gera um círculo vicioso de
culpa e baixa autoestima que pode fazer a pessoa se afundar cada vez
mais no mar de alimentos.
“As emoções mal direcionadas levam o indivíduo a comer demais e à
obesidade. Isso gera frustração, complexos, carência, solidão,
isolamento intencional, enfim, ele se sente culpado por comer demais e
come ainda mais para superar a culpa. Cria-se assim um circulo vicioso
onde a principal vitima é ele próprio”, avalia Rapenas.
Isso tudo sem contar o risco de doenças cardiovasculares, diabetes, pressão alta e colesterol que a obesidade acarreta.
Para quebrar o círculo vicioso da comida, o tratamento ideal envolve
uma equipe multidisciplinar que inclui médico, nutricionista e
terapeuta. “Um time de especialistas que acompanhe a dieta, os horários e
ajude a observar os gatilhos emocionais que geram o comer abusivo”, diz
Repanas. Tudo isso, claro, sem dispensar a atividade física.
Para a psicóloga, fazer uma revisão diária do que e de quando se comeu
permite reavaliar com mais clareza se aquela vontade repentina pode ser o
anúncio de fome ou não. “A partir dessa autoavaliação faço a escolha de
comer e do que comer de acordo com minhas metas e dieta, deixando assim
de ser somente um impulso automático, um comportamento irracional e
vicioso”, avalia.
As mulheres devem prestar especial atenção aos sinais de seus corpos.
“Elas são mais ‘emocionais’ que os homens, então é mais comum que
descontem suas angústias e alegrias na comida. Além disso, na fase de
TPM, pela mudança hormonal, pode aumentar o desejo por doces e
chocolates”, pontua Rosa.
Vida regrada
Uma alimentação balanceada ajuda muito na tarefa de identificar a fome
quando ela vem. O ideal é comer de forma fracionada ao longo do dia, a
cada três horas. A constância nos horários das refeições também ajuda o
organismo a se “autorregular” e a comunicar quando a fome chega e qual o
ponto em que o corpo está saciado.
Jocelem Salgado dá ainda uma dica para quem está na luta para combater o
desejo por comida: “A vontade de comer pode ser aliviada por meio do
consumo de alimentos ricos em fibras, como aveia, mamão, soja e cereais
integrais (arroz, granolas e castanhas). Uma das propriedades das fibras
é a sensação de saciedade, a qual reduz o apetite”.
Em todos os casos, é sempre importante procurar um médico, para que ele
oriente qual o melhor tratamento em cada caso e descarte outros fatores
que podem levar à vontade de comer algo, como deficiência nutricional,
problemas metabólicos ou hormonais.
Veja sete dicas para manter o foco na hora de comer
- Antes de começar qualquer dieta, tenha uma meta clara e definida em relação ao processo de emagrecimento e resultados esperados para se manter envolvido no processo. Se pergunte o que vale mais: a satisfação de comer uma batata frita no curto prazo ou o ter corpo mais esbelto e sadio num futuro próximo?
- Comunique as pessoas de seu convívio sobre sua decisão de emagrecer e explique o método que escolheu. Isso ajudará você a receber apoio e suporte externo, caso passe por momentos de instabilidade durante o processo
- Antes de iniciar qualquer refeição, se desligue dos problemas e não leve sentimentos de raiva, tristeza e outras emoções negativas para a mesa. Não contamine o seu momento de equilíbrio e de saúde. Faça um exercício de respiração e mentalize sua meta
- Mantenha-se focado durante a alimentação, prestando atenção na montagem e organização do prato, nas cores e no cheiro da comida, assim como na mastigação e nos sabores. Aproveite cada instante para saciar todos os sentidos
- Durante a mastigação, observe os seus pensamentos mais comuns. Esse é um excelente momento para verificar se está substituindo suas carências afetivas pela comida
- Ao final de cada dia, faça uma breve revisão do que foi sentido e procure se recordar das emoções mais presentes, analisando o que de fato interessa guardar e "carregar" para o dia seguinte. Sobrecarregar-se sem necessidade pode gerar muita ansiedade e desconforto. A higiene mental diária pode ser a chave para manter o controle das emoções
- Parabenize-se pelas vitórias do dia, por cada hábito positivo que conseguiu implantar e por mais um degrau avançado rumo a meta
- Fonte: Sandra Hamzeh, psicóloga
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