segunda-feira, junho 18, 2012

Estresse durante gestação interfere no desenvolvimento comportamental das crianças


Estudos com animais têm sugerido que estresse materno no período pré-natal pode levar a complicações no desenvolvimento comportamental da prole. Para investigar se esta hipótese também é válida para humanos, pesquisadores de Taiwan desenvolveram estudo com 186 mulheres que tiveram filhos no National Taiwan University Hospital, entre abril de 2004 e janeiro de 2005. Na matéria, Chao-Hua Chuang, professora associada do Departamento de Enfermagem, da Chang Jung Christian University, conta mais sobre a pesquisa que avaliou como fatores maternos psicossociais, saúde mental e estresse relacionado ao trabalho durante a gestação afetam o comportamento dos filhos. 

Chao-Hua e os colegas Suh-Fang Jeng, Wu-Shiun Hsieh, Hua-Fang Liao, Yi-Ning Su e Pau-Chung Chen contam no artigo que ainda será publicado no Pediatrics International que todas as participantes incluídas na pesquisa tiveram filhos a termo e as crianças foram observadas por 24 meses. Os autores coletaram informações sobre fatores psicossociais maternos através de cinco itens do índice de Saúde Mental (MHI-5) da versão taiwanesa do short form (SF-36). Já o comportamento infantil foi avaliado a partir das respostas informadas pelos pais no Child Behaviour Checklist (CBCL), quando as crianças atingiram dois anos de idade. 

Os autores explicam que a pontuação média para saúde mental perto do parto foi 68,11. Mais de 70% das participantes raramente apresentaram estresse relacionado ao trabalho, enquanto 24,7% apresentaram estresse sempre. A pontuação média obtida através do CBCL foi 45,95 e internalização, externalização de comportamento e problemas de sono tiveram as pontuações 11,89, 15,59 e 4,23, respectivamente. Segundo os autores, após o ajuste dos fatores de confusão, estresse materno relacionado ao trabalho próximo ao parto teve um efeito significante no total CBCL e externalização, na atenção e agressividade das crianças de dois anos de idade. Entretanto, saúde mental materna próxima ao parto não mostrou um efeito significante no comportamento das crianças. 


Estudo evidenciam os riscos 


Em entrevista concedida ao PROENF- Saúde da Materna e Neonatal, Chao-Hua Chuang explica que estudos em ratas mostram que o estresse materno no período pré-natal está relacionado a prejuízo na regulação do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal na resposta ao estresse e ao aumento da atividade do hormônio liberador da corticotrofina. Segundo ela, estudos em humanos evidenciam que o estresse materno “está associado com níveis plasmáticos elevados de hormônio adrenocorticotrófico e o cortisol pode aumentar o risco de problemas de desenvolvimento e problemas comportamentais na prole”. 

A professora explica que ela e os colegas optaram por avaliar o estresse relacionado ao trabalho na pesquisa, pois este é um conceito mais concreto do que outros tipos de estresse, o que facilita a medição. Durante o estudo, os autores testaram o efeito do estresse pré-natal eliminando fatores de confusão como tabagismo e consumo de álcool. Segundo Chao-Hua, “há evidências que associam o tabagismo materno ou a exposição a ambiente com fumaça de tabaco com desenvolvimento neurocomportamental adverso em crianças, por exemplo, cognitivo e comportamental. Da mesma forma, estudos mostram que exposição pré-natal ao álcool pode causar resultados adversos no parto ou no comportamento da criança. Essa é a razão de termos considerado tabagismo e consumo de álcool como fatores de confusão relacionados ao comportamento de crianças”. 


Diferenças Culturais


Se por um lado a pesquisa obteve associação positiva entre estresse relacionado ao trabalho, ela não encontrou associação com saúde mental materna. Para a professora, um motivo provável para isso “ é que pessoas com diferentes culturas têm diferentes definições sobre o item no MHI-5, mesmo usando as versões traduzidas do questionário”. 

Chao-Hua acredita que esse estudo pode fornecer informação importante para equipes médicas. “Eles poderão avaliar os fatores psicossociais que afetam as mulheres grávidas e, especialmente, mulheres que trabalham, ajudando a prevenir ou reduzir estresse durante o cuidado pré-natal. Além disso, a equipe de saúde que atua nos locais de trabalho, por exemplo, enfermeiras de saúde ocupacional podem proporcionar cuidado adequado para a gestante o mais cedo possível”.

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