segunda-feira, setembro 17, 2012

Idade da mulher ainda é a principal causa da infertilidade entre os casais


Quando se fala em fertilidade, o relógio biológico exerce um papel implacável. Quanto mais uma pessoa envelhece, maior a redução de sua capacidade de reprodução. Isso é ainda mais evidente no caso das mulheres que, por mais joviais que possam parecer atualmente, nascem com um número predeterminado de óvulos.

Ao chegar à idade fértil, uma mulher possui apenas 300 mil óvulos capazes de serem fecundados. Segundo esse processo contínuo e normal, após os 35 anos o número de óvulos terá diminuído. Assim, para evitar uma surpresa desagradável, elas precisam ser alertadas que o ideal seria engravidar até os 34 anos.

"Mulheres que adiam a gestação para priorizar a carreira e a estabilidade financeira buscam o seu primeiro filho em uma idade superior à ideal, ou seja, próximo aos 40 anos", afirma Arnaldo Cambiaghi, especialista em reprodução humana do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia).

O médico ressalta que, atualmente, a cada seis gestantes atendidas no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, uma tem mais de 35 anos. Já no Laboratório Fleury, em São Paulo, 35% das gestantes têm mais de 35 anos e 15% mais de 40, segundo publicação na Revista "Fleury - Saúde em dia". No IPGO as mulheres maduras já representam até 60% dos casais que buscam ter seu primeiro filho.

Mario Cavagna, diretor da Divisão de Reprodução Humana do Hospital Pérola Byington, de São Paulo, é mais enfático: “A partir dos 38 ou 40 anos, a capacidade reprodutiva das mulheres cai drasticamente. Do ponto de vista biológico, e não social, o ideal é que a primeira gravidez ocorra até os 25 anos”.

Deste modo, a prática do congelamento de óvulos e espermatozoides, assim como as pesquisas com as células tronco, vêm se mostrando caminhos promissores para vencer os efeitos do tempo.  E, ao contrário do que muitos pensam, após congelados, eles não têm um prazo de validade.


A alimentação também influencia


Além de ficar atenta ao relógio biológico, uma alimentação balanceada, a prática moderada de exercícios e a prevenção de doenças que afetam os órgãos reprodutores, além de ter a sorte de uma boa herança genética, são fundamentais para realizar o sonho de ter filhos.

A preservação da fertilidade começa pelo prato. “A dieta conhecida como mediterrânea, com alto consumo de ômega 3, encontrado em peixes de água fria como salmão e sardinha, além de nozes e ervilhas, por exemplo, contribui para isso”, afirma Cambiaghi.

“Já homens que comem muita carne ou consomem muito leite podem apresentar perda de fertilidade porque são afetados pelo alto nível de hormônios destes alimentos. O grande consumo de gordura também pode atrapalhar”, acrescenta o médico, que em breve lançará um livro sobre a influência da alimentação na fertilidade.


Drogas e doenças



A fertilidade de homens e mulheres também depende tanto da natureza quanto da qualidade de vida. O fumo, o álcool e as drogas são grandes vilões, bem como as doenças sexualmente transmissíveis (DST).

O hábito de fumar e o consumo de álcool e de drogas atingem tanto o sistema reprodutor masculino quanto feminino. Nos homens, alteram a concentração, o formato e a mobilidade dos espermatozoides, segundo Cambiaghi. Nas mulheres, afetam a qualidade dos óvulos.

Neste campo, a prática de exercícios físicos precisa ser moderada. A alta intensidade da prática esportiva interfere na ovulação e reduz a produção de espermatozoides. Porém, estes problemas são reversíveis.

Já as doenças que atingem o sistema reprodutor estão entre as principais causas da infertilidade, com destaque para a endometriose, presente em 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva no mundo. Originada pela presença do tecido uterino, o endométrio, fora do útero,  a patologia é um dos fatores mais importantes no impedimento da gravidez.

“Algumas mulheres com endometriose conseguem engravidar, mas, em geral, a doença compromete a qualidade do embrião e o ambiente do útero”, diz Cavagna.

As DST também são perigosas: chegam a responder por  25% das causas de infertilidade. Aqui, a prevenção é essencial, bem como o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, segundo os especialistas.

Entre os mitos mais populares sobre os inimigos da fertilidade estão o uso de notebooks no colo e de celulares no bolso ou na cintura. De acordo com Cavagna, não há estudos que comprovem estes danos. Porém, ele mesmo confessa que não tem esses hábitos. Prevenir é sempre melhor!

Dicas

Veja mitos e verdades sobre infertilidade

 

 - Fumo, álcool e outras drogas afetam a fertilidade. VERDADE: nos homens, afetam a produção dos espermatozoides, alterando sua motilidade (mobilidade), concentração e o formato. Entretanto, depois de três meses sem fumar, a produção dos espermatozoides pode começar a voltar ao normal. "Isso vale como um incentivo para as pessoas abandonarem o fumo definitivamente e não para pararem apenas enquanto estão tentando ter filhos", afirma Arnaldo Cambiaghi. Já o especialista Mario Cavagna lembra que o fumo também afeta a qualidade dos óvulos. Ele observa, ainda, que as pesquisas comprovam os prejuízos do alto consumo de álcool, mas sobre o consumo moderado, os estudos não são conclusivos AFP/Geoff Robins

 - Alimentos saudáveis contribuem para manter a fertilidade. VERDADE: segundo Arnaldo Cambiaghi, do IPGO, a chamada "dieta mediterrânea", com consumo de alto nível de ômega 3, presente em peixes de água fria como salmão e sardinha, nozes e ervilhas, por exemplo, favorece o sistema de reprodução. Por outro lado, estudos apontam que homens que consomem grande quantidade de carne e de leite apresentam perda de fertilidade, por causa do alto nível de hormônios destes alimentos, alerta Cambiaghi. Evitar alimentos gordurosos também é recomendado Thinkstock

 - Congelar óvulos é uma boa alternativa para quem retardar a gravidez. VERDADE: segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), o alto índice de resultados positivos apresentados por tratamentos que usam óvulos congelados indica que esta técnica superará em breve a fase experimental. A taxa de sucesso é de cerca de 30% dos casos. Cambiaghi lembra que o congelamento é indicado especialmente nos casos de doenças que impedem a paciente de engravidar imediatamente, como o câncer. Pelo procedimento, os ovários são estimulados com medicamentos específicos e os óvulos são coletados, desidratados e congelados Thinkstock

 - Sêmen congelado tem "prazo de validade". MITO: assim como os óvulos, o sêmen congelado pode permanecer neste estado por anos. Não há prazo limite para que seja utilizado, frisa Arnaldo Cambiaghi Thinkstock
 
 - Doenças sexualmente transmissíveis (DST) causam infertilidade. PARCIALMENTE VERDADE: estas doenças são responsáveis por 25% das causas de infertilidade, 15% para as mulheres e 10% para os homens, de acordo com Cambiaghi. Ele ressalta a importância dos preservativos masculinos e femininos, associados a espermicidas, e de orientações educacionais que ajudem a modificar os comportamentos de risco. Na maioria das vezes, as complicações podem ser evitadas se a doença for detectada precocemente, ou seja, assim que houver a suspeita de contaminação ThinkStock
 
 - Uso prolongado de pílula anticoncepcional reduz chances de engravidar. MITO: atualmente, as pílulas anticoncepcionais têm baixa quantidade de hormônios. Em geral, depois de interromper o seu uso por três ou quatro meses, as mulheres retomam sua capacidade normal de engravidar. "O que pode ocorrer, eventualmente, é a hipófise, glândula que controla os ciclos ovulatórios, demorar um pouco mais para retomar estes ciclos", comenta Mario Cavagna, médico do Hospital Pérola Byington. "Aliás, a pílula pode até contribuir com a fertilidade, ao prevenir a endometriose, por exemplo", acrescenta Thinkstock
 
 - O estresse pode contribuir para a infertilidade. MITO não há comprovação. "A sobrecarga emocional pode afetar o sistema límbico, o hipotálamo, a hipófise e alterar o ciclo ovulatório, mas há mulheres estressadas que continuam ovulando normalmente. No caso dos homens, o estresse pode provocar disfunção erétil e falta de libido, mas não a perda de fertilidade", diz Cavagna. De qualquer forma, o médico lembra que o estresse deve ser evitado por afetar a saúde como um todo e, particularmente, a vida sexual casal Getty Images 
 
- Usar notebook no colo pode levar à esterelidade. INCONCLUSIVO: segundo Mario Cavagna, médico do Hospital Pérola Byington, não há nada comprovado. Por via das dúvidas, ele mesmo diz que não manteria computadores e celulares perto dos órgãos reprodutores Thinkstock
 
 - Roupas justas causam infertilidade masculina. VERDADE: "Temperaturas altas na região da bolsa escrotal, geradas por roupas ou pelo ambiente, podem reduzir a produção de espermatozoides", alerta o especialista Mario Cavagna. "Entretanto, se o indivíduo passar a evitar os fatores que elevam a temperatura na região, o quadro pode ser revertido", acrescenta Divulgação
 
- Ruídos excessivos provocam esterilidade nos homens. INCONCLUSIVO: eles prejudicam a saúde como um todo, inclusive o sistema reprodutivo, mas não há nenhuma comprovação de que causam infertilidade, de acordo com Mario Cavagna, do Hospital Pérola Byington Thinkstock
 
 - Miomas impedem a gravidez. PARCIALMENTE VERDADE: "Miomas só comprometerão a fertilidade se estiverem dentro da cavidade do útero, se alterarem esta cavidade ou se destruírem as trompas. Portanto, em geral, depende da quantidade e da localização. Miomas dentro da musculatura do útero ou um único mioma não impactam a capacidade de engravidar", diz Mario Cavagna Thinkstock
 
 - Endometriose leva a esterilidade. VERDADE: a doença caracterizada pela presença do tecido uterino (endométrio) fora do útero é um dos fatores mais importantes entre as causas de infertilidade, de acordo com Mario Cavagna. Segundo estudos, 10 a 15% das mulheres em idade reprodutiva no mundo apresentam esta doença. Algumas mulheres com endometriose conseguem engravidar, mas, em geral, a doença afeta a qualidade do embrião e o ambiente do útero, lembra o médico Thinkstock
 
 - Mulheres que revertem a laqueadura podem engravidar. PARCIALMENTE VERDADE: Mario Cavagna explica que depende do tipo de cirurgia realizada. "Se a laqueadura foi feita no meio da trompa, a reversão costuma ser excelente. Se foi na parte terminal, não é possível reverter. Quando não é possível fazer a reversão ou quando a paciente já tem uma idade avançada, recomendamos a fertilização in vitro", diz o especialista, referindo-se à técnica de reprodução assistida em que o embrião é gerado no laboratório e implantado no útero Getty Images
  
 - Reversão da vasectomia geralmente apresenta bons resultados. VERDADE: "Acontece que muitas vezes o homem não quer fazê-la. Geralmente, chegam ao consultório casos de homens na faixa dos 45 ou 50 anos, que já têm filhos, se casaram de novo e a esposa quer engravidar. Neste caso, em vez da reversão da cirurgia, recomendamos a fertilização in vitro", comenta Mario Cavagna Shutterstock
 
 - Infertilidade causada por problemas genéticos pode ser repassada aos filhos. VERDADE: no entanto, Mario Cavagna,do Hospital Pérola Byington, afirma que o tema é controverso. "Pacientes com alterações nos cromossomos que afetam os seus espermatozoides acabam procurando métodos de reprodução assistida. Mas seu filho também será infértil pelo mesmo problema" Thinkstock
 
- A obesidade pode comprometer a fertilidade. VERDADE: nos homens, ao alterar o metabolismo, pode afetar a motilidade (mobilidade) e o formato dos espermatozoides. Já as mulheres com excesso de peso estão mais sujeitas a disfunções hormonais e ovulatórias. "Elas até conseguem engravidar, mas a obesidade não deixa de ser prejudicial", observa Arnaldo Cambiaghi. Além disso, vários estudos associam obesidade, tabaco, álcool e drogas com menores taxas de gravidez e de sucesso nos tratamentos de infertilidade, no caso dos homens, independente inclusive da concentração seminal PA
 
 Tratamentos para gravidez sempre geram gêmeos. MITO: Mario Cavagna explica que as taxas de gestação múltipla em mulheres que fazem tratamento para engravidar têm caído nos últimos anos. Isso porque há uma recomendação clara do Conselho de Medicina com relação ao número de embriões que devem ser implantados no útero de cada paciente: até dois, em mulheres de até 35 anos, até três, para aquelas acima de 40 e até quatro, para aquelas acima desta idade. "O organismo feminino foi criado para gerar um bebê de cada vez. Gestação de múltiplos é sempre de risco, por isso precisamos evitá-la, quando possível", esclarece Thinkstock
 
- Atividade esportiva intensa pode gerar infertilidade. VERDADE: Cavagna diz que as mulheres precisam ter por volta de 20% de gordura no corpo. Se isso não acontecer, podem ter seus ciclos menstruais alterados. "Isso ocorre com maratonistas, por exemplo". Os exercícios também afetam a produção hormonal e, com isso, suspendem a ovulação. Nos homens, a atividade física intensa também reduz a produção de espermatozoides, "mas eles são menos afetados, pois a produção deste gameta é contínua", ressalva o especialista. A boa notícia é que tanto para o sexo feminino quanto para o masculino, o problema é reversível com a redução da prática esportiva AP Photo/Laurent Cipriani
 
- Medicamentos que suspendem a menstruação não prejudicam a fertilidade. VERDADE: de acordo com o especialista Mario Cavagna, quando o uso é suspenso, a ovulação volta ao normal Denis Pepin/Shutterstock
 
- O relógio biológico é o maior inimigo da fertilidade. VERDADE: "Este é o maior problema de fertilidade atualmente. As mulheres deixam para engravidar mais tarde, pois se sentem mais jovens do que são" - diz Arnaldo Cambiaghi, do IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia). Porém, se a aparência física pode ser conservada ou disfarçada, o mesmo não acontece com os ovários e os óvulos. Os ovários têm a mesma idade cronológica que a mulher. "Após os 35 anos, na maioria das vezes, este número já fica bem menor, iniciando-se um maior declínio da fertilidade", alerta o médico Shutterstock

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